1. Boa tarde, P. Marco. Leio no teu livro «Viver a oração com o coração» que é possível rezar e não apenas dentro das paredes duma igreja. Como se reza continuamente?
A oração é, assim, um caminho de entrega simples e radical, vivido no quotidiano dos nossos afazeres.
Mais do que uma obrigação, é um convite a deixar que o coração se transforme, abrindo-nos a uma relação mais íntima com Deus e a um novo olhar sobre o mundo.
O segredo está em cultivar um coração que sabe que é amado e, a partir dessa certeza, permitir que toda a nossa vida seja transformada. Mais do que a repetição de fórmulas, a oração é um apelo a um encontro verdadeiro e pessoal com Deus. Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz ensinam-nos que tudo começa num coração que se reconhece amado. Quando nos deixamos envolver verdadeiramente por esse amor, também a realidade que nos rodeia se transforma.
Hoje, a oração assume um lugar ainda mais central na vida da Igreja. Valoriza-se a procura de uma oração contemplativa que não seja uma fuga do mundo, mas que seja profundamente pessoal e comprometida com a vida. É essencial que exista uma coerência entre aquilo em que acreditamos e a maneira como vivemos, para que a oração a Deus se traduza numa vida plena de verdade.
2. Durante a nossa peregrinação terrena, talvez não seja possível conhecer a Deus, mas apenas realizar aproximações à Sua grandeza sublime. Algures no teu livro afirmas «para conhecer a Deus de forma pessoal e íntima, o caminho é a oração». O que, pois, a oração te diz de Deus?
Que Deus é o alimento essencial da nossa vida. Através d’Ele, nutrimos a nossa fé e aprofundamos a nossa relação com Deus. Ele é a Presença reconhecida em todas as coisas e em todas as pessoas, ajudando-nos a ver o mundo com os olhos da fé. A nossa vida deve refletir a beleza e a alegria de uma existência centrada n’Ele, tornando-nos uma fonte de inspiração para aqueles que buscam uma vida mais profunda e significativa.
Hoje e sempre, somos convidados por Deus a seguir o caminho de busca interior e intimidade com Ele. Somos chamados à profundidade espiritual, à transformação interior e ao constante esforço por viver na Sua Presença.
3. Num breve parágrafo da página 27 enuncias sete formas de orar. Fica-me a pergunta: qual é a forma de rezar que melhor nos transmite Deus?
Através do diálogo com Deus, posso expressar meus sentimentos por meio de orações vocais ou de maneira interna, com gestos do coração e da vontade. Esse diálogo pode ser breve ou mais longo, e, às vezes, basta que eu permaneça em silêncio, em afetuosa companhia com Deus. O essencial é manter-me em diálogo constante com Ele.
Esse diálogo não precisa ser verbal o tempo todo; deve ser sereno e sem pressa. Também preciso fazer pausas para ouvir a resposta de Deus. O verdadeiro diálogo não se resume apenas a eu falar, mas também a ouvir. Santa Teresa de Jesus ensina que Deus responde sinceramente aos que O invocam, mas essa resposta nem sempre vem da forma como eu espero. A resposta divina não se ajusta às minhas expectativas imediatas, mas é dada para o meu bem. Muitas vezes, a oração “sem resposta” é o que me permite compreender o verdadeiro diálogo com Deus, que está presente em todas as coisas.
4. Na página 34 fazes uma pergunta: «Mas, o que dizemos exatamente a Deus neste diálogo?». Esta tua pergunta leva-me a perguntar: na oração é Deus que se nos diz ou somos nós que nos dizemos a Ele? Ou então, podemos dizer que Ele se diz segundo o que de nós Lhe revelamos?
O diálogo com Deus não se limita apenas a nós falarmos; seria incompleto se assim fosse. Santa Teresa de Jesus ensina que Deus responde aos que O invocam sinceramente, mas essa resposta nem sempre é audível ou corresponde aos nossos desejos imediatos. A resposta divina não se ajusta às nossas expectativas superficiais; devemos procurá-la ao longo de toda a nossa vida. Muitas vezes, é a oração “sem resposta” que nos conduz ao verdadeiro diálogo com Deus, que está presente em todas as coisas, e não apenas para satisfazer os nossos desejos. Escutar Deus é acolher as Suas graças e refletir sobre elas, embora nem sempre coincidam com o que consideramos como “graças”. Deus fala-nos de muitas maneiras, e o importante é estar atento, até nos Seus silêncios.