Frei Francisco Maria Braguês, OCD
Iniciamos o mês de agosto. A este mês associamos o Verão, o período de férias em destinos estivais e balneares.
Em agosto o Sol brilha de forma especial. E não será por acaso que é neste mês, mais precisamente a 15 de agosto, que celebramos a “mulher mais brilhante que o Sol”, a Virgem Santa Maria assunta ao Céu. Aproveitamos esta efeméride que a todos nos enche de alegria para nos aproximarmos, mais uma vez, de Santa Teresinha do Menino Jesus e descobrirmos como esta santa contempla a Virgem Maria.
Teresinha já nos habitou à sua ternura e mansidão. Sabemos como a sua relação com Deus Pai e com Jesus é de filhinha que se sabe muito amada. Teresa do Menino Jesus, na sua relação filial, sente-se pequenina, do tamanho de um bebé que adormece sem medo nos braços de seu pai. Com Maria, também é assim.
Para a jovem carmelita, Maria «é mais mãe do que rainha». Apesar de haver sido coroada Rainha do Céu e da Terra, estar isenta de pecado original, Maria está sempre próxima dos seus filhos. Aliás, Teresinha não consegue imaginar a Mãe do Céu lá longe, distante de seus filhos, impossibilitando-os de a amar. Por isso conclui que Maria «teve muito menos sorte do que nós, porque não teve uma Santíssima Virgem para amar. É uma doce consolação a mais para nós, e a menos para ela!». É impressionante a profundidade que se esconde por estas palavras tão simples desta Doutora da Igreja! O privilégio de sermos filhos é uma consolação para nós! Penso que pensamos e meditamos pouco no coração a graça que é sermos filhos de Deus e de Maria. Saber, experimentar e saborear no íntimo do coração o dom da filiação: somos filhos profundamente amados.
No seu longo poema intitulado “Porque te amo, ó Maria” (Poesia 54), Teresinha apresenta-nos Nossa Senhora de uma forma muito simples e igualmente profunda. A jovem carmelita aproxima-se de Maria a partir dos relatos bíblicos. Santa Teresinha não baseia a sua relação com a Mãe a partir de pressupostos pessoais. Isto é muito importante. Quando lemos estes versos, respira-se a Escritura.
Teresinha era uma leitora assídua da Bíblia, apesar das limitações que havia no século XIX. Os místicos do Carmelo amam profundamente a Sagrada Escritura e nela se revêm. A relação com Jesus Cristo, Palavra incarnada, dá-se sempre através da revelação. Da mesma forma, aprendemos com Teresinha que devemos contemplar Maria a partir das narrativas bíblicas.
Poderia alongar-me e meditar convosco as vinte e cinco estrofes que compõe este poema, mas o espaço não me permite. Por isso, aproveitarei para destacar alguns traços que me parecem mais interessantes e que nos podem ajudar a nós, que queremos amar cada vez mais a Virgem Maria.
O nome de Maria faz vibrar o coração desta sua filhinha porque a ama profundamente. Teresinha quereria cantar para sempre “Maria, porque te amo”, junto dela, porque se sente verdadeiramente filha desta doce Mãe.
A jovem carmelita recomenda-nos que vivamos sempre na companhia de Maria. Com ela o estreito caminho do Céu tornou-se visível: «Junto de ti, Maria, gosto de permanecer pequena», porque Maria é a humilde serva do Senhor.
O amor que experimentamos de Maria é o mesmo amor de Jesus: «Amas-nos, Maria, como Jesus nos ama». É o amor do Céu, do Coração de Deus que se enternece com os seus filhos. Tal como Jesus quis ficar connosco para sempre, Maria está também para sempre connosco e em nós. Junto dela poderemos estar sempre. A sua presença, tal como a de Deus, é sempre certa, seja nas horas mais brilhantes ou nos momentos mais escuros das nossas vidas. Teresinha somente deseja «cantar nos teus joelhos, Maria, por que te amo / e repetir para sempre que sou tua filha!».
Façamos nossa esta exclamação de Teresinha e não nos cansemos de repetir que somos filhos de tão boa Mãe! Mesmo que nos dessem a possibilidade de trocar de papéis, jamais o faríamos. Como confessa Santa Teresinha, «ó Maria, se eu fosse a Rainha do Céu e vós fôsseis Teresa, eu queria ser Teresa para que vós fôsseis a Rainha do Céu!» (Oração 21).
Saboreemos este belíssimo poema assinado por Teresinha escutando-o na sua versão original em língua francesa (“Porquoi je t’aime, ô Marie”), cantado por carmelitas descalças francesas: https://www.youtube.com/watch?v=GZDp7BY4UnA.
* Publicado no jornal Diário do Minho de 2 agosto 2023