Três perguntas e… mais uma
«Não é por um esforço pessoal individual que se logra o que escrevi.»

  1. Na primeira carta o Alexandre escreve o seguinte: «Diante de Deus nunca somos uns fracassados». É isso mesmo verdade?
    Estou absolutamente convencido disso. Para um Deus que é amor só poderemos fracassar nesse amor. Mas que pai, olhando para o seu filho, não vê, neste e mesmo quando ele possa ter sido o maior criminoso, uma gota de amor nem que a esvair-se para a secura? E será que um pai humano poderá ser mais bondoso, clemente e misericordioso na apreciação do que o Pai diante do qual todos os pais são como que um esboço?
  2. Se «conhecer uma pessoa exige tempo», como conseguiu escrever estas cartas a um jovem (anónimo, digo eu)?
    Foram vários anos a ler, no escuro do anonimato, o que os alunos me iam respondendo. Foram tantos ou mais anos (pois com alguns prolonguei verdadeiras relações de amizade) a trocar mensagens electrónicas e palavras telefónicas. A pessoa que é o imaginário interlocutor das cartas a que se refere é uma soma de tudo isso. Repare que eu disse “soma” (o que implica a manutenção das partes constituintes) e não “mistura” ou “amalgama”. Tempo foi o que não faltou, até mo terem tirado, para conhecer tantos e tantas jovens.
  3. Escreveu mesmo estas cartas aos jovens? Acha que eles têm tempo e motivação para lê-las?
    Sem dúvida. Tudo o que nelas trato é o abordar de questões concretas que me foram colocadas e que eu respondi de uma forma mais ou mesmo próxima daquela que acabou por surgir no pequeno livro que, imerecidamente para mim, as Edições Carmelo aceitaram publicar. Dito isto, reconheço que poderá haver pessoas que, trabalhando pastoralmente com os jovens, não possam não ter estado no meu subconsciente, pois foi como uma delas que eu contactei os jovens (como, por exemplo, o meu estimado companheiro frei André Morais) que a elas deram origem.
    Posso garantir que múltiplos testemunhos me garantem que sim, os jovens leram-nas e deram-nas a ler a outros jovens. Não sei o motivo disso, mas aconteceu. Talvez por algum deles, sendo jovens universitários deslocalizados dos seus ambientes natais (perdendo o contacto com as suas comunidades antigas, e, ao mesmo tempo, não ganhando ligação a novas comunidades) procuraram no meu livrinho algo que respondesse aos violentos tremores de coração por que passam. Mas saliento o que disse: isto é apenas um «talvez».

e… 4. Em que é que este seu livro difere de um de auto-ajuda?
Desde logo porque de “auto-” não desejei, nem pude desejar, que tivesse fosse o que fosse. Tudo o que é “auto-” é de desconfiar na vida espiritual, pois tende a conduzir a falsos cristianismos e a cristianismos doentios. Na verdade, o protagonista de tudo o que refiro que pode ser dito a um jovem, ou, então, feito por um jovem, é sempre Deus. Não é por um esforço pessoal individual que se logra o que escrevi. É, isso sim, por uma colaboração entre o sempre preveniente amor do Deus-Amor e o jovem (com mais ou menos juventude acumulada) que pode, ou não, aquiescer a esse amor que não realiza (quase) nada nele sem o seu assentimento deliberado. É por uma inserção em Cristo que nos dá uma graça que não é barata (como disse Jacob de Sarugh).