Entrevista ao autor: Armindo dos Santos Vaz

1. Deus responde sempre à nossa oração?
O Deus de Jesus, que é o Deus-amor, não pode deixar de responder à oração dos que Ele ama. Quem reza ao Deus de Jesus tem de sentir-se amado, sabe que é amado. E isso já significa que sentiu a resposta à sua oração (de lamentação, de louvor, de acção de graças…). Mesmo que, no caso da oração de petição, o seu pedido não tenha sido materialmente satisfeito (não se curou a doença para a qual pediu a cura, por ex.), deve pensar que a oração foi atendida: Deus quis a cura e só precisa de mediadores competentes que tornem realidade essa sua vontade. A eficácia da oração está sobretudo na transformação interior do orante, de modo a querer o que Deus quer (e Deus só quer o bem para as pessoas). O orante em linha com Jesus vê as coisas boas da vida como queridas e provindas de Deus e sabe que as coisas más dependem das radicais limitações da condição humana (mal físico) ou da maldade dos humanos (mal moral). E sabe que o verdadeiro Deus não é um deus intervencionista que deveria fazer desaparecer os males por um golpe de ilusionismo. Claro que é omnipotente; mas é no amor e na ordem do espírito (que é a sua). Não esqueça: Deus é transcendente (ao material, ao físico, ao molecular). Ler páginas 95-102.

2. Como podem os discípulos do séc. XXI fazer hoje a oração de Jesus?
O sentido de realismo diz-nos, por um lado, que não é possível recuperar o modo de rezar de Jesus, porque ninguém entrou na sua intimidade quando ele rezava. Mas, por outro lado, temos nos evangelhos testemunhos sobre a oração que ele fez e ensinou a fazer. A oração não se faz com régua e esquadro. Para rezarmos como ele ensinou não é preciso verbalizar as suas palavras e os seus sentimentos; basta assumir o espírito da sua oração e procurar fazer uma experiência do seu Deus, o mais próxima possível da dele. Seja como for, a oração que alinha com a de Jesus produz bom efeito. Não se sai da oração como se entrou para ela. Prova real da sua autenticidade é que ela se derrame em vida dada. Ler páginas 112-115.

3. Se não é possível recuperar a profundidade da experiência e da intimidade orante de Jesus, então por que reeditar este livro quarenta anos depois?
Quando os responsáveis de Edições Carmelo manifestaram o desejo de reeditar o livro de 1987, prestei-me logo a revê-lo, porque não tenho da oração de Jesus a mesma percepção que tinha há quarenta anos. Eu próprio não rezo como então, nem ponho na oração os mesmos conteúdos. O capítulo I foi retocado, e quase totalmente no que ficou como o ponto 2.5. Mas os capítulos II e III foram refeitos, de acordo com a minha sensibilidade face ao Novo Testamento e com os conteúdos que hoje meto na oração. Saiu um livro novo.

4. Ainda sabemos ensinar a rezar ao jeito de Jesus?
A escola mais autêntica do ensino de uma oração ao estilo da de Jesus é a que se deixa impregnar do espírito dos relatos dos evangelhos que referem a oração de Jesus e dos ecos que ela deixou nos escritos apostólicos. Mesmo assim, tal ensino não conseguirá evitar as limitações humanas na captação da profundidade da comunhão de Jesus com o Pai. Uma boa base para esse ensino é a oração que Jesus ensinou aos apóstolos quando eles lhe pediram: «Senhor, ensina-nos a orar» (sabemo-la de cor); a oração ao Pai segundo João 17 é outro ponto alto do magistério de Jesus sobre a oração. Nelas, ele está, dá-se e revela-se inteiro, como Filho de Deus-Pai e como irmão dos humanos. Ambas abrem a razão e o coração para além dos limites humanos, à procura do essencial na vida; essa abertura faz-nos ‘ser’ mais, nós que mal sabemos o que ainda poderemos chegar a ser. A oração de coração é, juntamente com a razão, um motor de busca da verdade que cada um de nós precisa de conquistar a partir de dentro e a partir do Alto, para dar sentido ao mundo de mistério em que vive. É lugar privilegiado do encontro com a nossa solidão, a pátria dos pensadores, que nos devolve o sentido do silêncio que as máquinas urbanas mataram. E, como a nadar se aprende nadando, a orar aprende-se orando.

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