Frei Francisco Braguês, OCD
Caríssimos leitores, continuamos a celebrar Santa Teresinha do Menino Jesus ao longo desta peregrinação anual que estamos a realizar com estas singelas linhas que, mensalmente, vão sendo publicadas no nosso Diário do Minho.
Desde janeiro que estamos a viver o ano jubilar de comemoração do 150º aniversário do nascimento da maior santa dos tempos modernos, como afirmou o papa São Pio X. Precisaríamos de vários anos para aprofundarmos as grandes riquezas que esta jovem carmelita francesa esconde e nos revela. Mesmo assim, mês a mês, vamos nos aproximando, sorrateiros embora ousados, desta grande santa.
O mês de outubro é inaugurado na Igreja pela celebração festiva de Santa Teresa do Menino Jesus. Anualmente, o dia 1 de outubro é dia de grande festa e ação de graças pelos dons e graças que recebemos de Teresinha. Gostaria, pois, de deter-me naquilo que a Liturgia da Igreja nos apresenta para celebrarmos, rezarmos e agradecermos Teresa de Lisieux.
A Liturgia da Palavra é belíssima. Toda ela se centra na imagem de Deus como pai – e mãe – cheios de carinho e ternura pelos seus filhos. A Primeira Leitura, retirada do livro do profeta Isaías transpira o amor de Deus para com Jerusalém por todos os lados. Correrão rios de paz para Jerusalém – também nós somos cidade santa – da parte de Deus. Os seus filhos serão acariciados e consolados sobre os joelhos, qual pai – e mãe – que cuidam ternamente de seus filhos. Alegremo-nos, pois Deus ama infinitamente cada um de nós e transforma os nossos corações, tantas vezes obscurecidos por trevas e noites, em focos de luz e de salvação.
O salmo que cantamos em dia de Santa Teresinha é um bálsamo de paz e de consolação. O salmo 130 é um convite a entrarmos no santuário do nosso coração, como o fazia tantas vezes a jovem carmelita, e aí descobrirmos o nosso tudo, o necessário e suficiente. Não busquemos fora o que temos dentro! O reino de Deus não é dos soberbos nem daqueles que buscam coisas superiores às suas forças e capacidades. Este reino é antes daqueles que ficam tranquilos e sossegados, como crianças ao colo da mãe. Retomamos a imagem materna consoladora e terna, que Teresinha de Lisieux desbravou e descobriu que era caminho seguro para a almejada união com Deus.
O Evangelho proposto é a meta desta senda. Os discípulos andavam preocupados em saber quem seria o maior no Reino dos Céus. Ambicionavam grandezas e os seus olhos levantavam-se altivos, como escutávamos no salmo 130.
Jesus, na sua divina sabedoria, responde de forma plástica. Chamou uma criança. Poderia ser Teresinha! Ali estava: quem não se tornar como uma criança, não entrará no Reino. Este Reino não é dos poderosos e altivos, mas sim dos pequeninos e humildes. É o Reino dos pequeninos!
Santa Teresinha ensina-nos que a infância espiritual é o caminho para acolhermos o abraço do Pai. É a peregrinação que estamos chamados a percorrer para descobrirmos já aqui, nesta terra e no nosso coração, o Reino que está entre nós. Assim rezamos no Prefácio da Missa: «Vós revelastes à pequena Teresa os mistérios do vosso reino, para que, mediante a sua vida escondida com Cristo, anunciasse aos homens o evangelho do vosso amor misericordioso».
Esse evangelho do amor misericordioso de Deus é o grande segredo que Jesus quer comunicar aos nossos corações. Devemos estar dispostos a perder as nossas seguranças e supostas bases seguras para nos abaixarmos, como o nosso Deus que se abaixa aos nossos corações para aí estabelecer a sua morada.
Diante d’Ele apresentemo-nos de mãos vazias, como as crianças, que lhes basta um sorriso para nos enternecer o coração. Deixemos que o Pai do Céu nos coloque ao seu colo e nos comunique os segredos do seu Reino. Façamo-nos pequeninos e humildes, singelos e discretos. Sejamos reflexos e missionários do amor misericordioso de Deus no nosso mundo, entre os nossos contemporâneos.
Peçamos a Santa Teresinha do Menino Jesus essa ousadia de nos lançarmos nos braços do Pai, de percorrermos os trilhos da infância espiritual. Rezemos como em cada 1 de outubro na oração coleta: «Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, fazei que sigamos confiadamente o caminho espiritual de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória».
* Publicado no jornal Diário do Minho de 2 outubro 2023