Selecção de textos bíblicos por Armindo Vaz, OCD

Do livro de Ester
Concessão de autodefesa aos judeus

[Nesta história do livro de Ester, os judeus passam de vítimas a executores com intenção defensiva, renovando o decreto de 1Samuel 15,3 que previa a destruição total dos amalecitas, actualizados agora como antepassados de Haman e dos seus sequazes. O versículo 11 da versão grega atenua a violência, dizendo que o decreto lhes permitia observar as suas leis, ajudar-se uns aos outros e defender-se dos inimigos segundo o seu desejo; mas não fala do extermínio de mulheres e crianças nem do saque dos bens. O número das vítimas é obviamente hiperbólico, com a intenção religiosa de acentuar a generosa protecção divina: se este livro não atribui a libertação dos judeus a uma intervenção directa de Deus (como se conta noutros livros bíblicos), ela é suposta, na oração de Mardoqueu e de Ester, capítulo 4. ]

8 1Naquele mesmo dia, o rei Assuero entregou à rainha Ester a casa de Haman, adversário dos judeus, e Mardoqueu foi presentado ao rei, pois Ester deu-lhe a conhecer o que ele era para ela. 2O rei tirou o seu anel, que tinha mandado retirar a Haman, e deu-o a Mardoqueu… 3Ester voltou a falar na presença do rei e caiu aos seus pés, chorando e implorando-lhe que revogasse o plano perverso que Haman, descendente de Agag, maquinara contra os judeus. 4O rei estendeu para Ester o ceptro de ouro e Ester levantou-se. De pé diante do rei, 5ela disse: «Se parecer bem ao rei e se alcancei graça diante dos seus olhos…, que seja feita por escrito a revogação do plano de Haman…, que escreveu para que fossem aniquilados os judeus que se encontram em todas as províncias do rei. 6Pois como suportaria eu ver a desgraça que vai atingir o meu povo? Como poderia assistir à aniquilação da minha linhagem?»

7O rei Assuero respondeu à rainha Ester e ao judeu Mardoqueu…: 8«Escrevei vós mesmos a favor dos judeus, em nome do rei, como parecer melhor aos vossos olhos, e selai o documento com o sinete real, porque um escrito promulgado em nome do rei e selado com o sinete real é irrevogável».

9 Os escribas do rei foram chamados naquele mesmo instante, no vigésimo terceiro dia do terceiro mês, isto é, o mês de Sivan. E tudo foi escrito conforme ordenou Mardoqueu, aos judeus e aos sátrapas do rei, aos governadores e aos príncipes das cento e vinte e sete províncias, desde a Índia até à Etiópia, a cada província na sua escrita e a cada povo na sua língua, e aos judeus na sua própria escrita e na sua própria língua. 10E ele escreveu cartas em nome do rei Assuero, que selou com o sinete real e enviou por meio dos correios… 11Nelas, o rei concedia aos judeus a faculdade de reunir-se em cada cidade, defender as suas vidas, destruir, matar, saquear os bens e aniquilar qualquer pessoa, inclusive crianças e mulheres, de qualquer povo ou província que, armada, os atacasse…

14E o decreto foi também promulgado em Susa, a capital.
15Então, Mardoqueu saiu da presença do rei com um traje real de púrpura e linho branco, com uma grande coroa de ouro e um manto de linho fino e púrpura, enquanto a cidade de Susa se alegrava e exultava. 16Foi para os judeus uma luz, uma alegria, um júbilo, uma honra! 17E, província após província, cidade após cidade, a cada lugar aonde chegava o decreto do rei e a sua ordem, havia entre os judeus alegria, júbilo e banquetes. Foi um dia de felicidade e muitos povos da terra associaram-se [as antigas versões grega e latina entenderam este verbo como se populações inteiras se tivessem convertido] ao judaísmo, porque tinha caído sobre eles o medo dos judeus. [Continuará]