Frei Miguel Márquez Calle, OCD, Prepósito Geral

Queridos irmãos e irmãs da grande família do Carmelo:

Carmelitas Descalças, Frades, Leigos OCDS, Famílias, amigos e Institutos afiliados.

Nesta bela festa da nossa Mãe e Irmã, Santa Maria do Monte Carmelo, muito me alegra dirigir-me a todos vós para vos felicitar e agradecer a Deus pelo dom da nossa vocação.

Neste dia solene, sob o manto de Maria, unimo-nos de modo especial a todos os que viveis situações de guerra, falta de liberdade, perigos, crises, doença ou solidão. Também àqueles que, por diversas circunstâncias, haveis deixado a Ordem como instituição. Maria continua cuidando de cada um e de cada uma, onde estiverdes, acendendo em vós um renovado

«Sim».

No coração e nas entranhas de Maria, Stella Maris, é-nos oferecida uma aurora de confiança e de um futuro inédito. Aproveito este dia para agradecer a todos o entusiasmo e o belíssimo acolhimento que teve o impulso de revitalização mariana, com o qual convidámos toda a Ordem a renovar a nossa esperança com Maria em Jesus. Em todo esse caminho acompanha-nos a profunda convicção de que Maria dará à luz, não o Carmelo que sonhamos, de que temos saudade ou que desejamos, mas o Carmelo que o seu Filho espera de nós.

Escrevo-vos esta carta a partir de Lisieux, na capela de Santa Teresinha, ao som do rio que percorre as muralhas do Carmelo de Teresinha. Nesta capela do Ermitage, há um formoso e simbólico sacrário dentro da silhueta da Virgem do Sorriso, exatamente no lugar das suas entranhas. O Carmelo está nas entranhas de Maria, como naquele sacrário, como esteve Jesus. Ela dar-nos-á à luz e nos dará a luz. Tenho grande confiança nesta oração com Maria, e com São José, no sonho do qual o Carmelo enfrenta o impossível com um coração humilde e audaz. Aqui, nestes dias, rezei por todo o Carmelo.

Partilho convosco a ladainha que me brota espontânea do coração. Convido-vos a completá- la com a invocação e a experiência com que Maria pulsa dentro de cada um de vós:

Santa Maria da Boa Esperança

Maria, com a Esperança nas suas entranhas, põe-se a caminho, peregrina da fé. Talvez seja o melhor ícone da contemplação. Maria carrega dentro de si o mistério de um Deus Encarnado, que se faz debilidade e vulnerabilidade. Com pressa, com o coração desperto e apaixonado pelo Deus pequeno e infinito que leva em si, caminha para servir a sua prima Isabel. Desde o início, os primeiros eremitas, expulsos da Terra Santa, tiveram de sair, peregrinar e descobrir o verdadeiro Monte Carmelo dentro de si e em cada lugar, em cada etapa da história. Convido-vos a dar um passo em frente e a não permanecer nas cinzas do passado, mas antes a reavivar o fogo do presente.

Santa Maria da paz desarmada e desarmante

O nosso Papa Leão convidou-nos a cultivar uma paz desarmada e desarmante. Nós queremos ser «descalços», desapegados, humildes e perseverantes, e lutar desarmados de nós próprios, com paixão, para construir a paz, começando pela nossa própria comunidade e pelos irmãos e irmãs com quem vivemos. Sem essa rendição e esse despojamento, não é possível o diálogo nem a fraternidade. Maria legitima e fundamenta em cada um de nós essa Paz, curando as feridas interiores de guerras e batalhas passadas. Somente desarmados e confiantes poderemos enfrentar o que está para vir.

Santa Maria das lágrimas

Maria desperta em nós as lágrimas e o pranto pela injustiça e pela guerra, pelos conflitos cruéis do nosso tempo, transformando a justa indignação e a impotência em luta pela transformação do nosso mundo. Não é uma mãe que nos deixa na tranquilidade da indiferença e numa comodidade apática. Ela acende em nós o fogo e a paixão de irmãos, que escutam o grito dos que sofrem. Maria, que o nosso coração desperte com o choro dos aflitos e se inflame de paixão pela paz, arriscando a vida.

Santa Maria das pontes

Maria sempre tece com a sua presença maternal uma ponte entre irmãos, entre povos, entre carismas, entre ideias e culturas. O Papa já nos convidou várias vezes a construir pontes. Pontes que superam o confronto e são o primeiro passo da reconciliação e acolhimento ao outro. Uma ponte construída como metáfora de encontro, que rompe com a polarização crescente do nosso mundo. No Carmelo, desde os tempos de Teresa e João da Cruz, corremos o risco de nos considerarmos do lado certo, de termos razão, de julgar o outro, de acreditar que possuímos a correta interpretação do carisma… Santa Maria das pontes impede que nos afundemos nas águas da nossa autossuficiência orgulhosa.

Santa Maria da vida quotidiana

Maria, Mãe e Irmã dos carmelitas, educa-nos para a vida contemplativa no comum e quotidiano de cada dia; da mística do que não brilha, do que não deslumbra. A espiritualidade das coisas comuns, feitas sem desejo de serem vistas ou reconhecidas. Fazer o que não gera aplausos nem agradecimentos (Julián Marías). Cultivar a ternura dos detalhes e dos gestos gratuitos, sem esperar recompensa. Cuidar da casa comum, com a intenção de que todos a sintam como seu próprio lar.

Santa Maria do diálogo e da escuta

Maria, mulher da escuta que ausculta a vida que pulsa por dentro, mulher de silêncios e perguntas, de palavras que brotam do seu coração sincero e agradecido, desperta em nós o diálogo que se abre para aprender e compreender a verdade do outro; ensina-nos o diálogo como abertura e descoberta, recetividade e parresía (liberdade de dizer), docilidade e oferecimento.

Santa Maria do sopro e do descanso

Maria ensina-nos a descansar, a cuidar de nós mesmos para cuidar dos outros, a respirar e deixar-nos respirar, com um ritmo que não é o da pressa ou da aceleração, mas o da qualidade de vida e de presença. Maria anima em nós o sopro do Espírito, que marca o nosso passo quotidiano e nos ajuda a saborear a vida. Somente descansando podemos trabalhar. Maria recorda-nos o pulsar da presença que nos habita, sem nos deixar cair no stress da dispersão. Ajudas-nos a rever e a reorganizar pessoal e comunitariamente a inércia que não nos deixa beber e saborear o presente.

Santa Maria do caminho nos “não caminhos”

“Mesmo nos desertos do coração, brota a frescura das fontes” (Roger de Taizé). Maria é mãe da esperança nos aparentes finais da história, e aguarda no Sábado Santo da história uma ressurreição surpreendente. Em tantos “não caminhos” da vida, Maria leva- nos pela mão e conduz-nos, como filhos, abrindo caminhos que não figuravam nos mapas dos mais sábios exploradores. Ela dá à luz um caminho na Noite da história, um trilho nas rotas sem saída e um poço nos fracassos. Stella Maris. Ela também nos ensinará, nas muitas situações de Carmelos em extrema fragilidade e outros que encerram, a ser semente que se enterra para, a seu tempo, dar fruto como Deus quer.

Santa Maria da humildade e da audácia

Santa Maria do Monte Carmelo recorda-nos que somente os humildes são os verdadeiros valentes na aventura de dar a vida. Humildade e valentia. Simplicidade e ousadia.

Santa Maria dos rebentos invisíveis

Diante da ameaça de um olhar negativo sobre o presente, Maria empresta-nos o seu olhar positivo, conhecedor do mais além e do depois que pulsa em seu Filho, Senhor da história e do futuro. Maria aponta, no velho tronco do Carmelo, os rebentos de graça e de recomeço. Cura o nosso olhar negativo e confronta-nos com a realidade, sem a idealizar ou negar, mostrando-nos, em cada momento, a presença de Deus que quer nascer. A fé de Maria é sempre fecundidade e porta de esperança para o desejo de Deus. Ela convida-nos a abençoar os rebentos que já despontam em cada pessoa e em cada comunidade.

Convido-vos a acrescentar a vossa própria ladainha, e a invocarmos juntos Maria.

Também vos apresentamos os resultados da pesquisa que fizemos a toda a Ordem e que são como que uma radiografia do nosso sentir mariano. Agradeço de coração aos irmãos da equipa de Fátima por todo o precioso trabalho que realizaram com tanta dedicação e entusiasmo.

Por fim, anuncio a abertura de um blogue mariano, no qual se reunirá todo o dinamismo que diz respeito à Virgem Maria e ao Carmelo, e que estará disponível no link: https://maristellacarmel.com/. Inicialmente contará com publicações em cinco idiomas, com a possibilidade de adicionar outros, caso haja voluntários para traduzir e editar os correspondentes conteúdos.

Uma muito feliz solenidade, queridos irmãos e irmãs. A todos, o meu abraço e bênção.

Roma, 16 de julho 2025