Armindo Vaz, OCD

No centro e no ponto culminante da esperança cristã está a ressurreição de Jesus como Filho de Deus e fundamento da ressurreição da pessoa humana. No que diz respeito à pessoa, a esperança sente que a morte faz parte da vida: tem a ver com ela, interpreta-a e dá-lhe sentido. Mas, agarrada à fé cristã, também sente que a morte não é o fim da vida terrestre. Esta projecta-se para diante, noutra vida e antecipando a «outra» para esta: vive o paraíso na terra. A «outra» vida é o ‘segundo acto’ do mesmo e único drama de cada vida pessoal. É preciso entender a «outra» a partir desta, como seu cumprimento ou plenitude. Mesmo que a «outra» tenha estrutura experiencial distinta (só espiritual), terá de ser a mesma vida, a minha vida. A vida de ressuscitados – seja ela como for – terá de ser um reflexo das escolhas que fizermos neste mundo, segurando o último fio da vida à esperança. Tudo o que realmente quisermos de bom será. Seremos para sempre o que tivermos querido e o que tivermos querido ser. Somos o que fazemos, em opções fundamentais conscientes, para sempre. Vamo-nos fazendo biograficamente, projectando-nos, nas escolhas diárias, nos sonhos, nos conflitos, na bondade, na esperança. Ao longo da vida fazemo-nos e escolhemo-nos a nós próprios, não tanto o que queremos ser mas mais quem queremos ser. Nesta vida, por meio da esperança, fazemos a escolha da «outra». E a «outra», vida de ressuscitados, é a realização plena da esperança.

Se a esperança era pouco meditada e pouco praticada, este ano jubilar é propício para aprofundar o alcance do dar «razão da esperança que está em vós» (1Pedro 3,15).