Agostinho Castro

Vamos reflectir um pouco sobre Nossa Senhora. Aquela que foi escolhida para ser Mãe de Deus e nossa Mãe, Maria de Nazaré, a cheia de graça, cheia de misericórdia, porque cheia de Deus. Mãe de misericórdia, é o seu nome. Neste ano jubilar da misericórdia, faz todo sentido esta reflexão, pois na história da salvação do Deus da Misericórdia, ela ocupou e ocupa um lugar proeminente, como veremos, desde a perspectiva Bíblica, (Evangelhos) Eclesial (Magistério) e devocional (fiéis). 2016 é o ano da Misericórdia, por vontade expressa do Papa Francisco. As razões desta sua decisão encontram-se na bula «Misericordia Vultus» (o rosto da Misericórdia; nas suas homilias, atitudes e gestos, bem conhecidos de todos nós… Mas especialmente porque vivemos num mundo marcado pelo sofrimento humano, provocado pelo ódio, pela guerra, agora não declarada, como outrora (2 guerras mundiais) mas guerra fria, aos bocadinhos, a expressão é do Papa Francisco, com atentados terroristas, e não só, matando milhares de pessoas, perante a indiferença inexplicável  das forças internacionais dos mais poderosos. A marca do sofrimento humano atingiu o coração e as vísceras do Papa Francisco, que vive como o Bom Samaritano da História e da Igreja, fazendo-se próximo dos desvalidos, dos mais frágeis, dos sem tecto, sem família, sem amor, compadecendo-se de todos, como Jesus, rosto e coração misericordioso do Pai.

O conceito de misericórdia.
Na bula, o rosto da misericórdia, o Papa Francisco afirma: « Jesus Cristo é o rosto da misericórdia. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré… Na plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido da Virgem Maria (Gl 4,4) para nos revelar de modo definitivo, o seu amor. Com a sua Palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus revela a misericórdia de Deus» (VM 1). Precisamos, continua o Papa, e isto é importante, de «contemplar  o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade; misericórdia, é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro; misericórdia é a lei fundamental, que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida; misericórdia, é o caminho que une Deus e homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado» (VM 2). Sobre a misericórdia de Deus nos nossos santos (Carmelitas e não só) vão aparecendo retiros, reflexões e publicações. Relativamente a Nossa Senhora, Mãe de misericórdia, podem recorrer ao livro do Cardeal Kásper «A Misericórdia» porque de facto ele faz, no último capítulo, uma abordagem séria, competente e enriquecedora sobre o tema em questão. Também verifiquei que o Papa Francisco lhe dedica, o n.º 24 da bula: «O rosto da misericórdia».

Testemunho na fé da Igreja.
As afirmações sobre Maria nos Evangelhos ficaram gravadas no coração dos fiéis de todos os tempos e encontraram eco muito grande na espiritualidade cristã. Assim, os testemunhos do NT, deram lugar a uma tradição viva, que perdura até aos nossos dias. Nas orações e representações Marianas, Santo Ambrósio encontrou a expressão teológica para qualificar Maria, como tipo da Igreja. Ele no seu comentário ao Evangelho de S. Lucas, qualificou Maria como tipo da Igreja. A LG, retomou essa afirmação: «Como Mãe do Redentor, é também mãe dos redimidos, na ordem da graça. A Igreja aprendeu a ver Maria como testemunha e tipo e ao mesmo tempo como criação especial da misericórdia divina. Só misericórdia, nada de pecado. Em Maria vemos o plano original do criador e ao mesmo tempo o ser humano redimido. Mesmo num mundo secularizado, Maria continua a ter influência como modelo e ideal do ser humano. Maria é a que corporiza o Evangelho da misericórdia da forma mais pura, e por isso, mais bela. Por conseguinte, ela pode ser vista como um desafio para a Igreja e para o mundo: venerando-a como tipo e modelo resplandecente de uma nova cultura da beleza e da misericórdia de Deus. De facto podemos caracterizar Maria com toda a razão como tipo e modelo de uma cultura renovada da espiritualidade  cristã e da misericórdia. Com o Magistério da Igreja afirmamos, que Maria, não só é tipo e modelo, mas também misericordiosa intercessora para a Igreja e para os cristãos. Por isso, à mais famosa e conhecida oração mariana: a «Ave Maria» que remonta às saudações do Anjo e de Isabel a Maria, acrescentou-se «rogai por nós pecadores» (S . XV) ….Contudo, como é óbvio, nós não colocamos Maria no mesmo patamar que Jesus Cristo, nem sequer em concorrência com Ele. Maria vive por inteiro da misericórdia de Deus, como nós, e remete para a misericórdia revelada em Jesus Cristo, como afirma o Papa Francisco, (VM 2) e dá testemunho dela. Por Maria a Jesus: «fazei o que Ele vos disser»… Por conseguinte, nós os católicos não adoramos Maria, pois só Deus é digno de adoração. Mas venerámo-la, imitamo-la (Virtudes Marianas…). Maria diz-nos e testemunha que o Evangelho da misericórdia divina em Jesus Cristo é o melhor que nos pode ser dito e o melhor que podemos escutar, e ao mesmo tempo, o mais belo que pode existir porque é capaz de nos transformar e de transformar o nosso mundo tão carente de paz, alegria, ternura, bondade… Agora vem o que é próprio de todos nós: devemos praticar a misericórdia, vivendo-a, testemunhando-a, por palavras e por obras. «Obras quer o Senhor» (Santa Teresa).