Selecção de textos bíblicos por Armindo Vaz, OCD

Salmo 83 (82)

Esta súplica invoca de Deus a protecção para o povo de Israel. A memória do povo conservava recordações de guerra com os seus vizinhos e sintetiza-as aqui nesta densa oração. As ameaças do inimigo principal poderiam corresponder às dos assírios, antes do exílio. A longa lista de povos a toda a volta de Israel, cada um por si ou coligados («estabeleceram uma aliança contra Ti»), configura os que nalgum momento da sua história o foram combatendo para anexarem a sua terra (os filisteus do versículo 8 ocuparam a actual «faixa de Gaza»). Por isso, a fé viu-os como tendo-se contraposto a Deus. As personagens mencionadas nos versículos 10-12 encontram-se no livro dos Juízes 4,7-8.12-24; 5,21-31; 7,9-8,21: evocam grandes vitórias de Israel no passado, atribuídas pela fé ao seu Deus, que agora é invocado na oração, para que de novo conceda o seu favor a Israel e seja reconhecido pelos inimigos como o Deus transcendente.

Este salmo, pelo seu conteúdo violento, foi excluído da Liturgia das Horas da Igreja na reforma litúrgica, em 1971.

2    Ó Deus, não fiques calado;

      não fiques mudo nem impassível, ó Deus!

3    Vê como os teus inimigos se agitam

      e levantam a cabeça aqueles que te odeiam.

4    Engendram planos astuciosos contra o teu povo,

      e conspiram contra os teus protegidos.

5    Dizem: «Andem! Vamos exterminá-los como povo!

      E não volte mais a ser lembrado o nome de Israel.»

6    Assim decidiram de comum acordo

      e estabeleceram uma aliança contra ti:

7    as tendas de Edom e os ismaelitas,

      Moab e os agarenos,

8    Guebal, Amon e Amalec,

      os filisteus com os habitantes de Tiro.

9    Até os assírios se juntaram com eles,

      e foram o braço dos filhos de Lot.

10   Trata-os como fizeste com Madian e Sísera,

      como a Jabin na ribeira de Quichon.

11   Foram destruídos em En-Dor,

      serviram de adubo para as terras.

12   Trata os seus nobres como Oreb e Zeeb;

      e todos os seus chefes como Zeba e Salmuna.

13   Pois eles tinham declarado:

      «Tomemos para nós os campos de Deus.»

14   Ó meu Deus, atira-os para o redemoinho,

      Torna-os como palha levada pelo vento,

15   como o fogo que devora a floresta

      e como a chama que incendeia os montes.

16   Persegue-os com a tua tempestade;

      atormenta-os com o teu turbilhão!

17   Cobre-lhes o rosto de ignomínia;

      e que então procurem o teu nome, ó SENHOR.

18   Sejam confundidos e abalados para sempre,

      sejam envergonhados e pereçam.

19   Fiquem a saber que só Tu tens o nome de SENHOR;

      Tu, Altíssimo sobre toda a terra!