Frei João Costa, OCD

Meu querido Patriarca São José,
nem me passa pela minha pobre cabeça
que ignores o que cá por baixo se passa!
Sei que não és tanto como Jesus, que é Deus,
mas és pai Dele!
Sei que não és tanto como Deus nosso Pai,
mas Ele escolheu-te para protector do Filho!
Sei que não és tanto como Deus Espírito Santo,
mas Ele sempre te iluminou o coração,
quando nas tuas noites escuras tiveste de tomar
as decisões mais difíceis da tua vida,
da vida da Virgem Maria,
da vida de Jesus Menino,
da vida da família de Nazaré, enfim,
as decisões mais difíceis que poderiam magoar
o coração bom do nosso bom Deus!

Em boa verdade, querido Patriarca São José,
ainda bem que não és nem Deus, nem super-herói.
És apenas homem; mas que homem, ó homem de Deus,
e homem à altura de Deus!

Sei que sabias fazer um pouco de tudo:
sabias fazer um galinheiro, estrelar ovos,
fazer uma canja, assar um anho, fazer um pudim.
Sabias ler o tempo e antecipar as tempestades ou bonanças,
semear um campo e colher flores e frutos;
remendar uma caleira, fazer um arado, um baloiço,
consertar a roda de um carro, montar uma cadeira,
fazer um moinho, arranjar uma janela, uma arca,
um tampo ou uma aduela de uma pipa.

Eras pobre, mas tinhas umas mãos grandes e fortes,
uns braços valentes e fofos, um sorriso bonito,
uns olhos de esperança, uns belos cabelos negros,
um apetite fabuloso e, frugal, se tinha de ser.
Ah, e dormias como um anjo!

Eras um amigo às direitas, daqueles que sempre ri,
mesmo se lhe contam a mesma piada cem vezes!
Dizem-me e não me enganam que eras delicado e sensível,
amigo do teu amigo, incapaz de uma birra,
paciente com os caloteiros e atento aos mais pobres que tu.

Ah! E eras digno de Deus. Sim, isso sim:
eras digno de toda a confiança do nosso bom Deus!
E conhecias certamente aquelas histórias
(algumas das quais Jesus nos contou!)
que nos teus tempos se contavam sobre os ricos
que partiam para reinos longínquos
e deixavam as suas terras ou tesoiros a render
nas mãos de servos de confiança.

Sim, claro que sim, tu conhecias bem essas histórias.
Aliás, sempre que as ouço na liturgia, é de ti,
pobre carpinteiro de Nazaré, que eu me lembro,
porque foi a ti, homem dos sete ofícios,
a quem o Eterno entregou o Seu querido tesoiro:
o Filho, Jesus Menino, nosso Salvador!

Olha que, às vezes, me ponho a imaginar
o que significa ser guardião do filho de Deus!
E o que me ponho a lembrar é isto:
onde poderia Deus encontrar um coração puro e digno,
olhos límpidos e mãos ternas e suaves
para embalar e guardar o Menino e a Mãe?
… Onde, meu Deus?
E depois, Deus perguntou-te:
«aceitas ser pai do meu Filho?» e tu assentiste!
Como és admirável, José, nobre carpinteiro de Nazaré!
Ninguém, em lado algum,
te ouviu um lamento ou murmúrio,
do teu coração não subiu um desalento que fosse,
nem sequer um: «e que mais me irá acontecer?»!
Aconteceu, e pronto, já eras pai,
tomaste o Menino nos braços e eles tremiam,
tremias todo, como varas ao vento porque, afinal,
em teus braços tinhas o teu Deus!

Visto que, Senhor São José,
soubeste estar à altura do que Deus requeria de ti,
eis-me aqui para te pedir
bem menos do que Deus te pediu:
que olhes por nós, ouças as nossas dores,
lamentos, tristezas,
desânimos, desassossegos, gritos, ânsias, preces.
Ouve tudo isso, ó pai, toma tudo em tuas mãos,
e apresenta-o ao coração do Eterno Pai:

À nossa volta, tudo está carregado de cinza escuro.
Lá fora é primavera, mas nós restamos confinados.
Lá fora já cantam ao sol as flores, os grilos e as rolas,
mas dentro de nós e das nossas casas
tudo é tão cinzento e, às vezes, negro!

A rotina de doze horas ou mais focada no écran
cansa-nos, mói-nos, maça-nos e desanima-nos.
Já não suportamos mais estar enclausurados,
que até trepamos pelas paredes acima!
Já não toleramos o teletrabalho, o medo de sair à rua,
o estudo em casa por vídeo-conferência,
as conversas por whatsapp e messenger;
já não suportamos os clientes tontos
que recusam usar máscara e álcool-gel;
cansam-nos o patrão, se somos empregados,
e os empregados se somos patrões.

Isto está ruim, José!
Estamos todos deveras cansados e deprimidos!
Se vivemos numa ilha queremos ir para o continente,
se vivemos no continente queremos ir para a ilha!

Eu sei que, verdadeiramente, a solução
não está em tuas mãos, José, de facto não está,
mas não tinha ninguém mais com quem desabafar.

Por isso te peço, durante o sono desta noite,
traz-me um pouco de sossego ao meu coração,
de paciência à minha cabeça,
de paz ao meu lar, de esperança à minha fé,
de júbilo ao meu trabalho, de confiança ao meu futuro.

Isto está ruim, sim,
mas tu és o pai de Jesus, certo?

Abraço-te, pai.
Teu filho, João.